O
pós-modernismo e o discurso do arquiteto
A importância da obra de Oscar Niemeyer na
história da arquitetura do século XX está ligada ao seu alto grau de liberdade,
informalidade e imaginação; qualidades que permitiram o seu destaque em meios
às restrições formais do funcionalismo moderno. A composição espacial de sua
arquitetura não é herdeira da matriz geométrico-abstrata do modernismo, e com
isso, a curva é o registro gráfico e espacial de um gesto humano que em nada
lembra as formas ortogonais que guardavam em si a predisposição à serialização
proveniente da indústria. Sendo assim questionador do modernismo e não contra,
pois ainda se utilizava de algumas características, buscou repensar aspectos
considerados então errados com uma arquitetura portadora de símbolos, de
caráter utópico e renovador, comunicando valores culturais e um modo de pensar
mais aberto e mais rico de possibilidades.
A
criatividade que parecia ter acabado com os modernistas, pois tudo parecia ser
apenas reproduzido em novas obras, volta com a queda do Muro de Berlim e os
pós-modernistas, e no caso de Oscar Niemeyer, tomando partido da extrema
maleabilidade do concreto armado, matéria plástica ainda muito próxima da
tradição escultórica da modelagem in loco,
capaz de produzir peças únicas e singulares, permitindo coisas que não estavam
sendo feitas.
Essas superfícies que desde então se tornaram
grande referência de suas obras, aparecendo na maioria dos projetos posteriores,
foram observadas pelo poeta e calculista Joaquim Cardozo, ainda no conjunto da
Pampulha, como um novo “ritmo” na arquitetura brasileira e mundial, com “panos
de concreto” cuja leveza era notável, e que não surgia subordinada à
verticalidade moderna. Outro traço marcante é a delicadeza da escala, onde
muitas de suas obras têm tamanho diminuto (como por exemplo, a Casa das
Canoas), e mesmo os palácios de Brasília, que tem intensões claramente
monumentais, são delicados se comparados às escalas e às expressividades dos
palácios de Chandigarh (Le Corbusier, 1651) ou ao de Daca (Louis Kahn, 1962).
Casa das Canoas, 1952
Terceira casa que Oscar Niemeyer projetou para
si próprio, em 1952, dentro da floresta da Tijuca, surgiu no pleno
amadurecimento de sua carreira: trabalhava ao mesmo tempo no Conjunto do
Ibirapuera (SP) e no prédio Copan (SP), e logo antes, em 1947, teve
reconhecimento nacional por sua proposta escolhida para sede da ONU (New York).
Consequentemente o arquiteto trouxe inovações na solução da arquitetura das
casas de vidro, com um diálogo não mimético com a natureza e com adequado senso
de escala e implantação no terreno.
Na escolha do acesso, diferente das soluções
mais comuns, que os trazem na parte mais baixa, preferiu definir a entrada no
ponto mais alto da propriedade. Decisão que lhe trouxe duas vantagens
perceptivas: liberar o jardim das passagens e da interferência visual dos
automóveis, e originar um trajeto em declive de aproximadamente 8 metros que
propicia uma visão ampla da casa, rocha, piscina, floresta e, centenas de
metros abaixo, a linha do horizonte.
As linhas retilíneas do acesso acentuam o
contraste com o primeiro elemento que domina o olhar: a sinuosa e livre
cobertura plana que ultrapassa os limites da construção. E alguns metros abaixo
se percebe uma rocha que é o centro da composição.
Vista do caminho de
acesso à Casa Das Canoas
Na Casa das Canoas, a escolha do acesso e a
composição do caminho para a casa, pode representar um primeiro questionamento
de Niemeyer ao modernismo, de forma que traz a obra arquitetônica à escala
humana e trabalha com a percepção, além de apresentar logo no primeiro momento
as curvas da cobertura de concreto, ou a curva humana que transcende a
imparcialidade industrial.
Uma vez chegado ao nível do primeiro piso, a
percepção da cobertura branca passa a se apresentar como uma extensa e
retilínea linha horizontal, que enfatiza a textura natural e o volume irregular
da rocha, articulando o espaço interno ao externo e à água da piscina. Além de
se apresentar em planta livre de paredes e fechamentos espaciais internos, acentua
um fluxo que se sucede, com salas de jantar e estar, um lavabo, cozinha e área
da piscina, uma característica trazida do modernismo.
Vistas internas
Plantas baixas do
térreo e subsolo
A pequena escala e a conversa visual de ecos e
contrastes que estabelece com o verde e com as formas, é um exemplo de como a
natureza é um elemento configurador do projeto e de exímios jogos de
transparências e opacidades. Constitui, provavelmente, da mais excepcional
realização de Niemeyer no Rio de Janeiro, sendo que em suas escolhas projetuais
mostrou a coesão de seu pensamento e de sua proposta arquitetônica, repensando
aspectos do modernismo e traduzindo a necessidade de seu tempo e realidade.
Palácio da Alvorada,
1957
Construído para ser a residência oficial do
presidente da República, o palácio começou a ser projetado antes mesmo da
realização do concurso para o Plano Piloto de Brasília. Uma das razões que
justifica o afastamento da cidade, isolado e próxima ao lado Paranoá, no leste
do Eixo Monumental. Já resgatando simbolismos à arquitetura, o nome “Alvorada”
tem origem nessas duas ideias: a direção leste, e o fato do palácio ser a
origem da cidade.
Obra do Palácio da
Alvorada.
Com desenho de referência clássica,
reinterpretou as colunas em torno do edifício, característico dos templos
gregos e, já no âmbito nacional, as sedes das fazendas coloniais, com suas
varandas no perímetro, agregando a sua obra valor cultural brasileiro. A
geometria é clara e simples, um prisma de vidro sombreado por varandas que
destaca as colunas como elemento simbólico fundamental, conferindo simplicidade
e pureza à imagem do palácio, princípios que também caracterizavam as grandes
obras arquitetônicas do passado.
Fachada do Palácio
Como efeito, o papel estrutural das colunas
curvas de concreto é quase insignificante e dada à particularidade de seu
desenho, parece surgir uma das outras, estabelecendo dependência entre elas.
Nesse aspecto, faz oposição ao funcionalismo do modernismo, uma vez que traz
novamente a curva humana ao projeto e o concreto modelado in loco, e onde a principal função é a estética e simbólica, e
somente nessa “função” se justifica.
Croquis das colunas
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Disponível
em: < http://casasbrasileiras.wordpress.com/2010/09/20/casa-das-canoas-oscar-niemeyer/>. Acesso em: 14 de novembro de 2013
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