Urbanismo: Racionalismo Clássico e Estrutural

   


     A Revolução Industrial ocasionou diversos impactos sociais e urbanos, devido a uma grande migração das pessoas do campo para as cidades, acompanhada de um desenvolvimento das tecnologias e dos centros urbanos nunca visto anteriormente. Os progressos tecnológicos permitiram um grande avanço para arquitetura devido a inúmeras descobertas de novas possibilidades construtivas e estruturais, de forma que antigos materiais passaram a ser substituídos gradualmente pelo vidro e metal.

    Na França, durante o século XVIII, outros profissionais começam a intervir na cidade em pontos que antes eram apenas função dos Arquitetos. Os médicos com seus conhecimentos humanos e em saúde e os engenheiros, que antes eram restritos às atividades militares, também foram influenciados pela revolução industrial, e começaram a participar em intervenções no meio civil, sem a colaboração dos arquitetos. Assim, estes começaram a afastar a arquitetura do seu meio. Em busca do seu lugar profissional, a arquitetura começa a se aliar aos conhecimentos sobre o homem, na época em que ele era estudado e valorizado, a era da razão. 

    Desta forma, aliando-se à medicina no estudo e entendimento do comportamento do homem, a arquitetura se torna mais técnica. O desenvolvimento da visão da arquitetura como ciência veio também da proposta de combinar elementos de arquitetura, em que os edifícios eram compostos, por meio de uma relação entre os elementos estruturais, funcionais e decorativos.

    A Europa, durante os séculos XVIII e XIX, estava ávida pela história e deslumbrada pelos conhecimentos técnicos, científicos e tecnológicos que advinham da Revolução Industrial¹ e o seu desenvolvimento da arqueologia e diversas descobertas científicas que desenvolveram um maior conhecimento da sociedade. Este preenchimento de conhecimento da sociedade alavancou as cidades e as super populacionaram, aliando o conhecimento, a base critica da realidade e a valorização do passado.
O século XIX foi marcado por diversos estilos arquitetônicos, no entanto, dois desses estilos, que surgem na Inglaterra e na França, foram opostos e dominantes: O Neoclassicismo e o Neogótico.  Estes dois países eram os principais da Europa nos séculos XVIII e XIX e disputavam a supremacia no conhecimento, cultura, potencial militar e outros.

    Com os novos materiais e tecnologias trazidos pelo advento da Revolução Industrial, a integração entre estes e a valorização do passado levou ao racionalismo, uma tendência que buscava enfatizar a prioridade da estrutura na arquitetura. Racionalismo era comum aos clássicos e góticos de arquitetura, eles tinham a convicção que as formas arquitetônicas deveriam possuir uma justificativa racional que advinha das leis da ciência. Os racionalistas eram os arquitetos que acreditavam que não deveria haver a separação entre desenho e construção, já que consideravam que a forma estrutural deveria ser a essência da forma arquitetônica.

    Os revivalistas foram as duas vertentes responsáveis pelo surgimento dos racionalismos estrutural e clássico. Racionalismo clássico era a tentativa de se trazer a forma e a ordem para arquitetura em um período em a sociedade acreditava que vivia melhor no passado clássico. Do outro lado estava o estrutural que era o movimento de maior expressão e fazia parte de uma frente revivalista, chamados de românticos², que acreditavam que na idade média os aspectos da sociedade, cultura e regionalismo eram melhores para o desenvolvimento da sociedade atual. 

      Os revivalistas góticos propunham conhecer a sociedade e as técnicas do passado para transforma-la e adaptá-la para o presente, enquanto os neoclassicistas, que, mesmo possuindo poucos conhecimentos históricos devido a ainda nova arqueologia, preferiam reproduzir completamente as obras da antiguidade clássica em lugar de adaptá-la, por isso os neoclassicistas não tinham tanta visibilidade quanto os princípios do racionalismo estrutural, que, devido a sua projeção sobre o futuro, perseveraram. Entretanto, os racionalistas não eram tão distintos na teoria, ambos acreditavam que o uso adequado das formas resultava em uma melhor expressão arquitetônica, sendo que os clássicos davam prioridade a estrutura e a derivação dos ornamentos utilizados a partir dos elementos construtivos, além de considerar de grande importância e influência a escolha adequada dos materiais de construção. Os racionalistas góticos, no entanto, acreditavam que haviam princípios que poderiam leva-los a um estilo autentico³ e mais distante da tradição.

     Algumas críticas podem ser tecidas a respeito desses dois pensamentos, como, por exemplo, o pouco conhecimento de história e como eles se baseavam em poucas informações para os seus projetos, já que, a arqueologia ainda estava começando a surgir. Outro ponto importante a ser citado é que, devido a falta de metodologia academia para entender aquele período em sua totalidade, as suas construções eram baseadas em poucos vestígios arqueológicos, sendo que a construção era completada com suposições e impressões do homem do século XIX e XX e não com a impressão dos homens da antiguidade. 

     Viollet-le-Duc, grande teórico francês da arquitetura e o principal expoente do racionalismo estrutural, excluía claramente a tradição arquitetônica do racionalismo clássico francês. Ele acreditava que a história da arquitetura tinha um desenvolvimento téconologico contínuo e que o passado não interessava pelos ornamentos e efeitos externos e sim pelos seus princípios, como a valorização do medieval era relacionada à expressão honesta dos materiais e do sistema construtivo por eles utilizados. Em suas propostas de métodos e modelos, ele libertava, em tese, a arquitetura de coisas irrelevantes do historicismo. Suas ideias rapidamente saíram da França e chegaram a outros países da Europa, influenciando nas obras de Antoni Gaudí, Victor Horta e Hendrik Petrus Berlage.

     Gaudí, grande arquiteto da Espanha, hoje mundialmente conhecido, foi um dos revivalistas neogóticos influenciados, em grande parte dos seus trabalhos, por Viollet-le-Duc. Em seus trabalhos ele buscava inspiração na cultura regionalista voltada para os indígenas, criando assim formas totalmente novas de expressão.  No entanto, uma de suas obras, a Casa Milá, foi um projeto completamente distante das concepções de Viollet-le-Duc, já que esse não tinha nem a construção nem a montagem expressos em sua obra, sendo esta um afastamento do estruturalismo e uma antecipação do expressionismo. 

     Assim, podemos concluir que, apesar dos poucos conhecimentos em história devido ao ainda pouco desenvolvimento da arqueologia, as novas técnicas construtivas, tecnologias e descobertas científicas provocadas pelo advento da Revolução industrial incentivaram o surgimento de novos estilos e tipos de pensamentos de grupos revivalistas como o neoclássico e neogótico. Podemos notar também que, apesar de terem ideias similares, o racionalismo estrutural, que foi baseado no neogótico, teve mais aceitação que o racionalismo clássico. Grandes foram os nomes que participaram desta corrente, como por exemplo Viollet-le-Duc, Gaudí, Victor Horta, entre muitos outros, que trouxeram grandes contribuições para a arquitetura mundial com suas grandes obras influenciadas pela corrente estruturalista.

Manual do Arquiteto

2 comentários:

Instagram